Tuesday, April 13, 2010

Kriol Jazz Festival




O meu pai adora jazz. Eu cada vez gosto mais. A 2ª edição do Kriol Jazz Festival deu-me uma nova visão do Jazz e quero partilhar estes bons momentos com quem não esteve presente.
Desde miúda que ouço Jazz ao vivo no Festival de Jazz da Praça da Erva em Viana do Castelo (Portugal).É sempre no Verão, numa pracinha do centro histórico da cidade, muito intimista. Por lá passaram nomes como Billy Cobham, Burdette Becks, Carles Benavent, Danny Gotlieb, Harmony Central, Jeff Berlin, Joey Defranceso, Jorge Pardo, Miroslav Vitous, Noveccento, Richard Galiano e Stanley Jordan, entre muitos outros. Assim fui ouvindo Jazz na Praça da Erva. Desde que vim viver para a Ilha tem-me sido difícil estar presente.
Assim, foi uma delicia ser brindada por um Festival de Jazz na Praça, mesmo que não fosse a da Erva ( foi mesmo na Praça Dr. Antonio Lereno, Plateau, na cidade da Praia ,Cabo Verde).

Sou melómana convicta e “criolómana” também, fiquei entusiasmada com o cartaz mas ao mesmo tempo intrigada. Perguntei-me: “Mas isto é tudo Jazz?”. “Princezito é Jazz??”. Bem mas Princezito foi só na segunda noite por isso antes a primeira: Kim Alves, Mário Canonge e Ralph Thamar, Rene Lacaille e Kora Jazz Trio. Nesta noite, sentadinha debaixo de uma árvore decorada com estrelinhas prateadas, assisti à sensualidade do Jazz de dois senhores: o pianista Mário Canonge e Ralph Thamar, a Voz. Era um jazz quente, com curvas…crioulo sem dúvida.
Réne Lacaille foi uma surpresa, veio da Ilha de Reunião, no Oceano Indico, com o acordeão e os amigos. Bem, o senhor de barbas brancas com ar de marinheiro tocou de tudo e fez-me viajar entre flamengos e blues e muito Jazz sim. Fusão, diversidade, vida, alegria, ouvi, vi e senti.
Comigo ainda sentada debaixo da árvore chegavam os ultimo senhores da noite : Djeli Moussa Diawara, guiniense (kora), Abdoulaye Diabaté, Senegal (Piano) e Moussa Cissoko,Senegal (percursão). Os Kora Jazz Trio fascinaram-me. O som da Kora e a fusão dos sons tradicionais mandingas com o Jazz resultaram numa sonoridade extremamente delicada, quase onírica …lindo. Mesmo visualmente, a Kora é um instrumento muito especial, dá vontade ter uma em casa. Para casa mandava-nos Tumi no fim da segunda noite de festival, mas já lá vamos.

A segunda noite começou com Princezito, ”badiu” do Tarrafal. Uma das características mais marcadas da música de Princezito é a improvisação da palavra, a chamada Finaçon. Canta em crioulo de Santiago e inspira-se nas coisas mais simples da vida na ilha, no mar, no amor, na paisagem…numa poesia cantada com graça e ternura. Participou na colectânea: “Ayam” (junto de nomes como Vadu e Tcheka) e apresentou recentemente o seu primeiro álbum “Espiga”. Os ritmos tradicionais da Tabanca e do Batuke são o mar em que Princezito é peixe mas o espectáculo apresentado nesta noite brindou o publico com uma nova roupagem destes sons, em parte oferecida pela banda de grandes músicos caboverdianos que acompanhou o cantor . Sim, Finaçon é Jazz, é improvisação e quem mais perito em improvisar do que o (músico) badio? Sim, Princezito é fusão e também é Jazz e se não for, não faz mal.
Jaques Morelenbaum foi quem nos encantou a seguir .O músico e produtor brasileiro no violoncelo acompanhado por Lula Galvão (guitarra acústica) e Rafael Barata (percurssão) levaram à praça do Plateau as pérolas mais brilhantes do Brazil, como António Carlos Jobim ou Caetano Veloso. Público embevecido e eu, debaixo da “minha árvore”, sempre a sentir-me uma privilegiada por poder estar ali .
Depois do Brasil : América! Ou seja: Manhattan Tranfer. Soundtracks famosas, temas inesquecíveis e vibrantes pela voz de dois senhores e duas senhores que deixaram todos de boca aberta tanto pela magnifica prestação vocal como pela contagiante expressão corporal.
Fim da noite, fim do festival, faltava apenas uma banda: Tumi & The Volume. O nome dizia-me pouco, só sabia que a banda vinha da Africa do Sul e que dois elementos da banda eram moçambicanos e o vocalista, Tumi, sul-africano.
Estava curiosa e fiz questão de me aproximar. Os acordes iniciais acordaram a malta no primeiro segundo. O ar maroto de Tumi, o groove, as letras, chegaram as gentes para a frente e fomos todos tomados por uma energia muito boa, positiva, vibrante. O rapper entoou e fez entoar, com o publico a cantar versos como “One life to live, one life to give, one life!” ou “time keeps rolling on bye”.Africa aplaudida, fome denunciada e muita paz celebrada .Celebramos, cantamos e dançamos. Rap ou Reggae, ou Hip-Hop ou Samba, ou uns pozinhos de Jazz, fecharam em grande estas duas noites de diversidade. Ouvi dizer que a festa continuou no Kapa Club com os músicos do evento e uma visita de Bino Barros (Cabo Verde), com alguns dos temas do seu primeiro álbum “Praia Baxu”. Bino Barros reside actualmente na Europa mas durante anos correu a Ilha de Santiago a cantar com a chamada geração Pantera (jovens músicos seguidores do já desaparecido Orlando Pantera) e encontra-se a divulgar o seu primeiro trabalho editado .Estas sessões do Kapa Club já se tornaram obrigatórias. Outro extra do KJF são os workshops com os músicos, gratuitos e pelo que ouvi muito muito interessantes.
E assim deixo as impressões deste grande Festival, principalmente para aqueles que não puderam lá estar. E vai uma “translation” para os meus amigos para quem a língua Portuguesa ainda é um pouco complicada… Espero ter deixado por aí vontade incontrolável de estarem presentes na 3ª edição do KJF e conhecerem esta Ilha crioula: Santiago.

(in english now)

My father loves jazz. I like it more everyday. The 2nd edition of Kriol Jazz Festival gave me a new vision of jazz and I want to share this good times with those who did not attend.
Since i was a teen that I have contact with live Jazz at the Praça da Erva Jazz Festival , Viana do Castelo (Portugal). It's always at summer in a little square in the historical city center, very intimate. There have names like Billy Cobham, Becks Burdette, Carles Benavent, Danny Gottlieb, Harmony Central, Jeff Berlin, Joey Defranceso, Jorge Pardo, Miroslav Vitous, Noveccento, Richard Galiano, and Stanley Jordan, among many others. So I was listening to Jazz in the Square of Grass. Since i came to the island has been difficult to me to be present.
So, it was a delight to be toasted by a Jazz Festival in the Square, even if it were not for Erva square (it was in the Square Dr. Antonio Lerena, Plateau, in Praia, Cape Verde).

I am a music lover and a lover of the crioule culture also. I was thrilled with the names but at the same time confused. I asked myself: "But this is all jazz?". "Princezito is Jazz?". Well, Princezito was only in the second night. First night: Kim Alves, Mario Canonge and Ralph Thamar, Rene Lacaille and Kora Jazz Trio.Sitting under a tree decorated with silver stars, I attended the sensuality of two masters of jazz: pianist Mario Canonge and Ralph Thamar, the Voice. It was a hot jazz, with curves ... Creole ,no doubt.
René Lacaille was a surprise, came from Reunion Island, Indian Ocean, with his accordion and friends. Well, that white-bearded man that looked like a old saylor, gave us a air of everything and made me travel between Flamengo, Blues, Jazz . Fusion, diversity, life, joy, hear, see and feel.
With me still sitting under the tree came the last masters of the night: Djeli Moussa Diawara, guiniense (kora), Abdoulaye Diabaté, Senegal (Piano) and Moussa Cissoko, Senegal (percussion). The Kora Jazz Trio fascinated me. The sound of the Kora and the fusion of traditional Mandinga sounds with jazz resulted in an extremely delicate sound, almost dream like ... beautiful. Even visually, the Kora is a very particular instrument, i would like to have one at home. Who sent us home was Tumi at the end of the second night of the festival, but we wil there.

The second night began with Princezito, "Badiu" from Tarrafal. One of the most marked characteristics of Princezito music is the improvisation of the word, the “Finaçon”. Sings in Creole of Santiago and is inspired by the simplest things in life on the island, the sea, love, landscape ... a poetry sung with grace and tenderness. Participated in the compilation: "Ayam" (along with names like Vadu and Bino Barros) and recently presented its first album "Espiga". The rhythms and traditional Tabanca and Batuke are the sea where Princezito is fish but the show is presented tonight toasted the audience with a new sounds, partly provided by the Cape Verdean band of great musicians who accompanied the singer. Yes, Finaçon is jazz, improvisation, and who is more adept at improvising than the (musician) badiu (local name for Santiago people)? Yes, Princezito is fusion and is also Jazz and if not, no problem.
Jaques Morelenbaum was who enchanted us after. The Brazilian musician and producer on the cello accompanied by Lula Galvão (acoustic guitar) and Rafael Barata (percussion) led to the Plateau square some of the brightest pearls of Brazil, such as Antonio Carlos Jobim and Caetano Veloso. Public stunned and I, under "my tree" always feeling privileged tohave the oportunity to be there.
After Brazil: America! Ie: Manhattan Transfer. Famous soundtracks, memorable themes and vibrant voice of the two ladies and two gentlemen who left everyone open mouthed by both providing magnificent voice as the contagious body expression.
End of the night, end of the festival, just missing a band: Tumi & The Volume. The name didnt told me much, i only knew the band came from South Africa and two members were Mozambicans, Tumi, the voice, from South Africa.
I was curious and made a had to approach. The initial accords made everyone stand in a second. Tumi’s funny presence, the groove, the lyrics, made people came forward and we were all taken by a very good energy, positive, vibrant. The rapper sang and are already made the audience sing lines like "One life to live, one life to give, one life!" Or "Time Keeps on rolling on bye." Africa was applauded, hunger denounced and peace was celebrated . Celebrating, singing and dancing. Reggae or Rap, or Hip-Hop, Samba, or some little bit of Jazz, closed the two nights of great diversity. I heard that the party continued in Kapa Club with musicians of the event and a visit from Bino Barros voice and Alan Sousa, percursion (Cape Verde/Brazil), with some of the songs from their debut album "Praia Baxu”. Bino Barros is currently living in Europe but for years he was singing in Santiago Island along with generation Pantera (young musicians followers of already disappeared Orlando Pantera) and he is promoting his first published work. These sessions at Kapa Club are already obligatory . Another extra at KJF are the workshops with the musicians, they are free and from what I heard very very interesting.
And so i live the impressions of this great festival, especially for those who could not be there. The translation is to my friends for whom the Portuguese language is still a bit tricky ... (sorry if my English its not that good,..) I hope I have left out there some urge to attend the 3rd edition of KJF, and experience this island : Santiago.

Wednesday, March 24, 2010

Delicadeza




Atitude gentil. Agir delicadamente, interagir delicadamente. Eu sei que nem sempre é viável, nem sempre é conveniente. Mas a maioria das vezes, é conveniente, é reconfortante.
Na sala de aula de um dos estagiários ao qual oriento a prática pedagógica numa escola do Ensino Básico em Sta Catarina (mais precisamente na Boa Entradinha), as paredes desgastadas pelo tempo estão repletas de cartazes.Com a tabuada, com desenhos botânicos, árvores de famílias de palavras, histórias, desenhos e colagens. Um dos cartazes, em cartolina rosa-bébé, tem por título: As três palavras mágicas. Quais serão: “Saúde, Amor e Dinheiro?”, “Liberdade, Igualdade e Fraternidade?”.Não, naquele cartaz manuscrito , afixado naquela sala de aula do interior de Santiago, as Três Palavras Mágicas são: Obrigado, Por Favor e Desculpe”. Bem, poderá haver um erro científico no cartaz, o metodólogo de língua Portuguesa diria: “Erro. Não estão lá três palavras, mas quatro.”.Pois seja. Mas que são palavras mágicas isso são. São delicadeza. Às vezes apetece-me dizer ás pessoas: “Desculpe, não se importava de ser mais gentil por favor? Obrigado”.E deixar um sorriso aberto.
E acho a coisa mais delicada do mundo pedir desculpas por não se saber ser delicado.
Viva a delicadeza!!! 

Sunday, March 21, 2010

Primavera e bruma-seca


Acordei e fui à varanda ver o dia. Uma luz diferente, não havia raios de sol sorrateiros mas sim um tom amarelado a fazer de véu sobre as montanhas. Bruma Seca. Googlei e aqui está:

“A bruma seca, ou “pó di terra”, é basicamente pó. Partículas de poeira trazidas pelo vento desde o continente africano que se espalham pelas ilhas, dando a impressão de um extenso manto de nevoeiro.
Antes fosse! As partículas finas em suspensão são respiradas pelas pessoas e causam problemas de pulmões, alergias e urticária. Pelo menos isso! E depois provoca uma sensação de mal-estar ao longo de todo o dia. Salva-se o facto de a bruma, em termos visuais, não ser assim tão desagradável.”(por Fernando Peixeiro em http://atlantico-expresso.net/cabo-verde/bruma-seca-po-di-terra-brisa-parda/2007/05).

Concordo, em termos visuais não é assim tão desagradável, traz um mistério, inspira-me. Há uma espécie de relação inversamente proporcional, entre a visão enevoada criada pela bruma e a clareza com que vejo para dentro.

Cá dentro há um planeta que roda sobre si mesmo. Há ventos doidos, dias cinzentos e dias de Sol escancarado. Há tempestades, tsunamis, terramotos, há arco-íris, auroras boreais e dias de bruma-seca. Há estações. E hoje é Primavera em mim. Um dia escrevi “Há um jardim a secar dentro de mim”. Hoje escrevo: “Há um jardim a renascer dentro de mim”.

Saturday, March 20, 2010

A Ilha e as montanhas…

…È, ainda cá estou, vou dando notícias por outras vias mas este cantinho virtual tem estado silencioso.
Inexplicavelmente, estou inspirada na Lua Nova. Costumo ficar sem norte mas desta vez não. Costumo querer evadir-me daqui ao fim de semana, mas este não. Não é que me apetece mesmo estar aqui? No meio das montanhas, de onde não se vê o mar…O mar está aqui perto, sei que está aqui ao lado, que posso ir ter com ele quando quiser, não me vai fugir. E há tantas outras coisas boas que não vão fugir se eu ficar aqui por uns momentos, no meio das montanhas. È verdade que ás vezes sufocam, estão por todo lado, como que a fechar-se sobre mim, fechando-me. Mas outras protegem, abraçam, acalmam. Rezo, leio, escrevo, penso, sorrio, lembro, crio, esqueço, vivo, aqui no meio das montanhas.

Wednesday, August 26, 2009

Wednesday, August 19, 2009

Tuesday, July 21, 2009

Chuva

Azágua...Chuva em Santiago, cheira a terra molhada.Toda a gente fala da chuva,a chuva aqui é um acontecimento.E tem mesmo de ser.Mas hoje choveu pouquinho, quero mais, muita chuva, cântaros dela, quero ouvi-la bater com força no telhado, acordar demanha e ver a metamorfose das montanhas,do castanho árido ao verde da promessa.Quero chuva muita chuva.Vou dançar muito para vir muita chuva!Dancem também!